O “Hacker Manifesto” do The mentor é um texto maravilhoso. Ele foi publicado originalmente na edição número 7 Do e-zine Phrack no dia 25 de setembro de 1986, por um hacker que atendia pelo nick de “The Mentor” e encontrava-se atrás das grades, por invadir o sistema de um banco. Desde então (e se passaram 14 anos quase) esse texto foi fowardeado e republicado em inúmeras BBS, Listas de discussão, NewsGroups e sites. Uma vez que existem poucas traduções boas em português resolvi traduzir o texto, tomando liberdade de adicionar paragráfos, e situar o texto no ano dois mil.

O texto original é enxuto, belo, panfletário sem ser chato e atemporal. Hackers existem a tanto tempo quando os computadores pessoais. Diz-se que no MIT, ao mesmo tempo em que eram desenvolvidos os primeiros microcomputadores desenvolvia-se a cultura hacker. De lá pra cá muita coisa mudou, mas a índole do hacker e suas frustrações pré-adolescentes não! Como já disse, o meu texto está situado no ano dois mil, onde depois de dominar por terra, ar, mar, ondas de rádio e televisão o primeiro mundo tenta também dominar o terceiro digitalmente, através de investimentos e projetos que até ajudam a desenvolver os países, mas que também ajudam a criar uma cultura de que “só é bom o que é estabelecido”, “o que é suportado por uma megacorporação”, cada vez mais caminhamos ao admirável mundo novo aonde tudo é vigiado por máquinas e comandado por grandes corporações. Mas atrás dos nazis está a resistência. E o mundo digital conta também com inúmeros guerrilheiros, guerrilheiros anônimos escondidos por trás de monitores e nicks curiosos. Aqui nada adianta caças, submetralhadoras ou armas nucleares. Aqui á disputa é de conhecimentos, quem tem o conhecimento de aproveitar melhor os inúmeros equipamentos de alta tecnologia a disposição é que vai ganhar.

No ano dois mil as pessoas são mais altas e vivem mais do que em 1986, mas de resto o planeta está mais sujo, o clima mais louco e ao invés de paranóias bipolarizadas testemunhamos milhões de conflitos por toda parte do globo. Há mais gente, mais desemprego e mais doenças, o mundo caminha para uma autodestruição inevitável que só nos dá duas saídas: Ficar sentado esperando pelo desastroso fim ou mover-se e fazer alguma coisa, imediatamente…

É um tempo bem mais cascudo, por isso o texto é mais agressivo e insatisfeito do que o original só que com a mesma índole e frustrações pré-adolescentes, segue a mesma linha de pensamento, a mesma visão. Espero que o mentor fique satisfeito…

Matias Maxx a.k.a. BloodStorm

A Consicência de um hacker

O manifesto Hacker

Texto original por “The Mentor” Tradução e adaptação livre por BloodStorm

A Associação da Indústria fonográfica norte americana se desdobra para tentar proibir o uso do Napster, um software de distribuição livre e gratuita de arquivos de aúdio pela grande rede mundial. Ao mesmo tempo a Sony corre atrás dos responsáveis pela disseminação de um software que desbloqueia o controle de zonas do DVD. Um vírus derruba uma fração considerável de máquinas ligadas a internet, disseminando-se via e-mail, aproveitando-se de uma falha do Outlook, software de e-mail do império do mal, que mesmo ameaçado pelo governo Yankee continua dominando mercados, impondo seu sistema operacional tosco e burro. Teóricos discutem o futuro da revolução digital, enquanto yuppies corporativistas gozam com o dinheiro de investidores gringos sorrindo ao verem seus empregados pagarem mico fantasiados de modernos numa revista de Domingo.

Mas nada disso importa pra você, o que te chama atenção é aquela manchete de rodapé: “Adolescente preso em escandaloso crime digital”. “Hacker preso após invadir bancos”. “Pirata de sistemas atrás das grades”.

Mais um foi pego hoje. Todo dia e a todo momento sistemas são quebrados. Sites são alterados e informações disseminadas. Mas hoje foi diferente. Mais um foi pego hoje!

Maldito Moleque! Vocês são todos iguais!

Mas por acaso você, na sua psicologia mesquinha e mentalidade paranóica, preconceituosa e atrasada já voltou sua mente para o dito criminoso e tentou entender o que se passa por trás destes olhos? Você já parou pra pensar no que o fez agir dessa maneira? Que forças o moldaram? Já tentou entender essa índole autodestrutiva e toda a repulsão ao sistema!?

Eu sou um Hacker bem vindo ao meu mundo…

Meu mundo começa na escola, eu sou mais esperto que a maioria dos meus coleguinhas e toda a besteira que tentam nos ensinar não faz mais nada do que encher meu saco! Sento na última ou na primeira fileira, não importa! Meus olhos estão fixados no quadro negro ou na cara de banana do tutor. Mas minha mente, minha mente está viajando…

Maldito Moleque folgado! Vocês são todos iguais!

Estou no ginásio e desenhava na carteira enquanto o professor explicava pela enésima vez como se reduz uma fração. “Eu já entendi!”

“Não Tia, eu não coloquei o desenvolvimento, eu fiz tudo de cabeça…”

Maldito Moleque! Provavelmente copiou! Vocês são todos iguais!

Fiz uma descoberta hoje. Um computador. Espera um pouco, isto é maneiro, faz o que eu quero fazer. E se faz errado, provavelmente é porque eu fiz alguma cagada e não por que não gosta de mim, ou se sente ameaçado por mim. Não é porque ele pensa que eu sou um trouxa, não quer que eu aprenda ou acha que eu não deveria estar aqui… Nada disso!

Maldito Moleque! Só quer saber de video-game! Vocês são todos iguais.

Então aconteceu… uma porta para um novo mundo abriu-se. Um pulso eletrônico percorre as linhas telefônicas tal qual heroina pela veia de um viciado. Aqui eu me refugio das incopetencias do dia a dia e expando minha pessoa…

Chego a uma BBS, uma sala de bate-papo, uma lista de discussão…

“É isto! Este é meu lugar! É aqui que eu pertenço!”

Eu conheço todo mundo aqui. Mesmo que nunca tenha olhado nos seus olhos ou ouvido suas vozes. Mesmo que eu nunca os veja, ou se eles desaparecerem por completo daqui… Mesmo assim, eu conheço todo mundo…

Maldito Moleque! Pendurado no telefone mais uma vez! Vocês são todos iguais…

Pode acreditar! Somos todos iguais. Na escola fomos alimentados com colheradas de papinha enquanto estávamos famintos por garfadas de carne. Os pedacinhos desta que você deixou escapar estavam pré-mastigados e sem graça. Fomos dominados por sádicos ou ignorados pelos apáticos. Os poucos que tinham alguma coisa para nos ensinar nos acolheram como pupilos queridos. Mas estes foram raros como lagos no deserto…

Este é nosso mundo agora. O Mundo do elétron e do Switch, a beleza do modem, a lógica do zero e um, positivo e negativo, dentro e fora. Nós nos utilizamos de um serviço já existente recusando-nos a pagar pelo que deveria ser baratíssimo se não fosse comandado por glutões corporativistas ambiciosos. E vocês nos chamam de criminosos.

Nós exploramos e vocês nos chamam de criminosos. Nós buscamos conhecimento e vocês nos chamam de criminosos. Nós existimos e sobrevivemos independente de raça, nacionalidade ou orientação religiosa e vocês nos chamam de criminosos…

Vocês constróem armas atômicas, vocês declaram guerras, matam, trapaceiam e mentem tentando convencer-nos de que é para nosso próprio bem e mesmo assim tem a maldita cara de pau de nos chamar de criminosos.

Sim! Eu sou um criminoso! E meu crime é o de curiosidade! Meu crime é o de julgar as pessoas pelo que elas falam e pensam e não pela sua aparência.

Meu crime é o de ser mais esperto do que vocês, algo pelo que vocês nunca vão me perdoar…

Eu sou um hacker, e este é meu manifesto. Vocês podem até barrar este indivíduo. Mas você NUNCA vai conseguir acabar com todos nós. Afinal de contas… Somos todos iguais…

Escrito originalmente em 8 de Janeiro de 1986 por The Mentor, traduzido livremente em 9 de Setembro de 2000 por BloodStorm.

Hacker Manifesto por aí:

http://www.2600.com/phrack/phrack07.html (Phrack VII - E-Zine onde o hacker manifesto foi publicado originalmente)

http://www.fortunecity.com/millenium/blueridge/275/maifesto.htm (em italiano)

http://www.cianet.com.br/users/master/bgmani.htm (em portugês, tradução horrível)

http://www.thecoo.edu/~elusk/oca/hackman.html (em inglês com imagens)

http://www.disobey.com/devilshat/ds980702.htm (Hacker Manifesto 1998. Uma versão bem-humorada do manifesto hacker que provoca os LammerZ que pensam ser hackers)