Estes são os sistemas de pagamento imediato da América Latina
SPEI no México, Pix no Brasil, Transferências 3.0 na Argentina, Sinpe na Costa Rica e muito mais, a onda de sistemas de pagamento instantâneo continua avançando na região
Acelerar a liquidação dos pagamentos é um objetivo comum dos bancos centrais da região. Para isso, têm promovido esforços tecnológicos e regulatórios para impulsionar as operações em seus ecossistemas locais.
Bancos e fintechs com visão regional são obrigados a conhecer esses sistemas de pagamentos instantâneos, a fim de desenvolver modelos de negócios sustentáveis e em conformidade com os reguladores. Isso em um momento em que outras jurisdições, como Peru e Colômbia, também estão trabalhando no desenvolvimento de suas plataformas.
Portanto, abaixo apresentamos uma lista com as características dos principais sistemas regionais de pagamento eletrônico instantâneo.
1. México: SPEI – CoDi
Os números publicados pelo Banco do México (Banxico) mostram um Sistema de Pagamento Eletrônico Interbancário (SPEI) com crescente adoção. O número de operações aumentou 62% em 2021 em relação ao ano anterior, com transferências com valores inferiores a MXN$ 8.000 (cerca de US$ 420) como protagonistas.
A SPEI iniciou suas atividades em agosto de 2004 e tem entre seus atores bancos, empresas de financiamento popular (sofipo) e fintechs autorizadas. Atualmente, está passando por uma série de reformas para evoluir e dar lugar ao SPEI 2.0, flexibilizando os limites para entidades não bancárias participarem, um desenvolvimento que o iupanaPro está relatando em detalhes.
“No México, o SPEI funciona muito bem”, disse Alejandro Pineda, CEO da Openpay, agregador de pagamentos do grupo BBVA na América Latina, à Iupana em agosto. “Através da SPEI o dinheiro é recebido na conta Openpay, que então faz a conciliação e liquidação para seus clientes agregados”, descreveu o processo do sistema imediato.
Na última atualização publicada pelo regulador, só em junho passado a SPEI realizou pouco mais de 200 milhões de operações, interoperáveis e gratuitas.
Da mesma forma, o país tem o CoDi, um sistema de pagamento móvel que usa ferramentas como códigos QR, tecnologia NFC ou links de pagamento para agilizar as transações, na tentativa de reduzir a circulação de dinheiro. Ele foi apresentado em setembro de 2019 e foi montado nos trilhos do SPEI.
No entanto, até janeiro deste ano, pouco mais de 16 milhões de contas válidas que podem usar o CoDi foram registradas, mas apenas cerca de 2 milhões de contas pagas ou recolhidas pelo menos uma vez por meio desse sistema.
Seu baixo nível de adoção está muitas vezes relacionado a uma experiência de usuário (UX) não intuitiva, e que, em princípio, sua integração nos canais digitais das entidades não era obrigatória, algo que depois mudou.
“A integração não foi difícil porque não era uma estrada paralela, era simplesmente protocolos na frente para gerar os QR codes. Mas, uma vez que a transação é montada, ela passa pelo SPEI”, diz Pineda quando questionado sobre os desafios tecnológicos de adicionar CoDi às soluções dos bancos.
O progresso do CoDi tem sido bastante desigual em comparação com outras plataformas semelhantes. O Pix, no Brasil, chegou a 2022% da população em maio de 55, enquanto o CoDi foi usado por apenas 8% dos mexicanos, segundo a Latinometrics.
2. Brasil: Pix
O Pix é o sistema de pagamentos instantâneos no Brasil, lançado em novembro de 2020 pelo Banco Central (BCB). Tornou-se o modelo para os reguladores financeiros da América Latina.
De um país de 214 milhões de habitantes, pelo menos 134,6 milhões já fizeram um Pix uma vez, segundo dados do BCB até janeiro deste ano, o que representa um aumento de mais de 20%, em relação ao mesmo mês anterior.
Sua rapidez, disponibilidade, comodidade e segurança impulsionaram sua adoção, bem como a promoção do regulador local.
Em torno do Pix foi gerado um ecossistema que inclui o Pix Saque e o Pix Troco, o primeiro permite o saque de dinheiro em lojas e o segundo, possibilita o recebimento de dinheiro pelo pagamento em excesso de uma compra.
Além disso, a implantação do open finance no Brasil promoveu o surgimento de iniciadores de pagamentos com o Pix, uma nova figura regulamentada que permite que as entidades originem e processem informações de pagamento dos usuários.
Isso abre a possibilidade de criar e ajustar outros produtos financeiros (como créditos) de acordo com a capacidade de pagamento dos usuários. Bancos como Bradesco e grandes fintechs como Mercado Pago e Magalu optaram por esse caminho.
“Estamos lançando nossa primeira iniciativa de open finance como iniciador de pagamentos do Pix na Kabum!”, disse Leandro Hespanhol, diretor comercial e de novos negócios da fintech Magalu, em junho.
Na ocasião, o executivo falou sobre os planos da empresa de alavancar sua instituição de pagamentos para prestar serviços a outras instituições no país.
Por sua vez, o diretor do BCB, Roberto Campos Neto, também afirmou em março de 2022 que há uma possibilidade real de que o Pix ajude no desenvolvimento das moedas digitais e na exploração do metaverso.
No fim do ano passado, Campos Neto anunciou que os protocolos do Pix estarão abertos para que qualquer regulador possa adaptar o sistema gratuitamente. A iniciativa fez com que a equipe da iupana pensasse na possibilidade de um sistema de pagamento instantâneo em nível regional.
3. Argentina: Transferências 3.0
Promovido pelo Banco Central da República Argentina (BCRA), o Transfers 3.0 é um sistema de pagamentos aberto e universal, que por meio da interoperabilidade de códigos QR visa facilitar as transações entre os atores do ecossistema financeiro.
Os bancos e carteiras eletrônicas do país participam disso, permitindo que contas bancárias (CBU) e fintechs (CVU) realizem operações entre eles, apenas por meio da leitura de códigos QR.
As transferências 3.0 entraram em operação em 29 de novembro de 2021 e o BCRA dois meses depois notificou que mais de dois milhões de transações interoperáveis haviam sido realizadas pelo sistema.
Dias antes do início da interoperabilidade do QR, a iupana conversou com o Mercado Pago que alertou que a implantação do sistema era um desafio tecnológico e de UX. Se uma boa experiência não fosse oferecida, as pessoas continuariam a preferir dinheiro, disse Agustin Onagoity, diretor da carteira, na época.
No entanto, embora o regulamento exija interoperabilidade, ou seja, que qualquer aplicativo ou carteira de mobile banking possa ler e fazer pagamentos com o código, ainda há atores no sistema que não foram integrados a ele. Alguns aguardam autorização do Banco Central para fazê-lo, enquanto outros denunciam irregularidades.
Pierpaolo Barbieri, fundador e CEO do unicórnio Ualá, disse em sua conta no Twitter que há empresas que não se adequam à norma. “O regulamento exige a interoperabilidade do QR. No entanto, alguns usam integrações para evitá-lo. Para forçá-lo a usar o aplicativo deles - e não o que você escolher”, escreveu em novembro e anexou uma foto em que uma empresa de estacionamento exigia fazer a transação com a carteira do Mercado Pago.
4. Bolívia: QR BCB
Em uma iniciativa semelhante, o Banco Central da Bolívia lançou há menos de dois meses o QR BCB, um sistema de pagamento imediato interoperável, que busca agilizar as transações com a digitalização de códigos QR.
O emitente garantiu que a iniciativa inclui entidades financeiras bancárias e não bancárias; no entanto, no momento está disponível apenas para clientes do Banco Union, um dos maiores do país.
A implementação avançará “gradualmente em todas as instituições financeiras à medida que adaptam seus sistemas para ter esse serviço disponível para seus clientes”, disse o banco central em comunicado. A expectativa é que até 2024 o sistema esteja totalmente desenvolvido.
5. El Salvador: Transfer365
O Banco Central de El Salvador lançou o sistema Transfer365 em junho de 2021 para pagamentos interbancários imediatos, por meio de uma câmara de compensação automatizada.
Participam do sistema bancos comerciais, sociedades de poupança e crédito e outras instituições autorizadas. Em junho de 2022, o sistema evoluiu para o Transfer365 Mobile, que possibilitou a possibilidade de fazer pagamentos instantâneos usando o número de celular associado à conta bancária.
No primeiro ano de operação, a Transfer365 movimentou US$ 7.904 milhões.
6. Colômbia: Sistema de Pagamento Instantâneo Interoperável (SPI) e QR
Em setembro, o Banco da República da Colômbia criou o Fórum do Sistema de Pagamentos, com o objetivo de promover mesas de trabalho público-privadas para o desenvolvimento de um sistema de pagamento imediato (SPI) no país.
Meses depois, o banco central anunciou sua proposta para a criação de uma câmara de compensação instantânea para transações e espera-se que este ano sejam traçadas as diretrizes para a implementação do sistema aberto, interoperável e de baixo custo.
Da mesma forma, recentemente a Superintendência Financeira da Colômbia (SFC) lançou as bases para tornar carteiras eletrônicas e aplicativos bancários interoperáveis, por meio de códigos QR. Para isso, o SFC apresentou um projeto para modificar as instruções para a implementação do código nas operações. O objetivo é que todas as entidades partilhem o mesmo padrão de códigos de pagamento, o que lhes permitirá comunicar entre si.
As novas regras entrariam em vigor em agosto.
7. Peru: Interoperabilidade da carteira
Da mesma forma, o Peru estabeleceu a interoperabilidade entre as carteiras eletrônicas mais populares, Yape e Plin. O primeiro do grupo Credicorp e o segundo surgiram de uma aliança entre os bancos Interbank, Scotiabank e BBVA. O prazo para que essas soluções abram seus trilhos é 31 de março.
Dessa forma, o Banco Central do Peru estabelece um ambicioso sistema geral de interoperabilidade, onde o próximo passo é incluir o restante das instituições financeiras, como bancos, caixas de poupança e crédito e fintechs autorizadas.
8. Chile: Rumo a pagamentos imediatos de baixo valor
Alberto Naudón, assessor do Banco Central do Chile, disse ao iupanaPro que a instituição está dando os primeiros passos para estabelecer um sistema de pagamento imediato no sul do país.
O ponto de partida é a criação de câmaras de compensação de baixo valor, algo que já foi aprovado a nível legislativo.
“Essa é a razão de avançar para as câmeras: formalizar o repasse e conectá-las mais claramente com o nosso sistema de pagamento por atacado”, disse o conselheiro no início do ano.
9. Panamá: Do Voucher Digital à Carteira 2.0
O Panamá também está trabalhando no estabelecimento de um sistema aberto de pagamentos instantâneos. A lei que dará base à plataforma está em discussão avançada no Parlamento.
O país centro-americano desenvolveu em 2021 uma plataforma de distribuição de pagamentos eletrônicos para alocar subsídios governamentais, como forma de amenizar os efeitos da pandemia. Os beneficiários do Voucher Digital acessam o programa por meio de um onboarding digital em um portal oficial. Ao realizar compras, os comerciantes afiliados escaneiam um código de barras ou código QR localizado na carteira de identidade dos usuários, debitando os saldos automaticamente.
O plano das autoridades é ampliar esse sistema de dispersão de pagamentos para permitir que outras entidades públicas e privadas troquem transações e dados de usuários.
10. Costa Rica: Sistema Nacional de Pagamento Eletrônico (Sinpe)
Criado em 1996, o Sinpe de Costa Rica evoluiu e hoje é o sistema de pagamentos em tempo real do país centro-americano.
O Banco Central evoluiu o sistema para o Sinpe Móvil em 2015, para que o envio de dinheiro possa ser feito com o número de telefone associado a uma conta bancária e em 2022 habilitou o sistema de pagamento para o transporte público.